Este blog dedica-se a exercitar "escuta" sensível às manifestações artísticas, criações e ilusões humanas.

domingo, 12 de dezembro de 2010

"Requiem para um Sonho"

 Este é um filme realista e visceral sobre a adicção e a "transmutação" do devaneio em delírio  sob  o efeito das drogas.  Freud em seu texto "Escritores Criativos e Devaneio" (1908) enaltece a figura do escritor o qual a partir de um devaneio ou sonho acordado é capaz de criar situações fantásticas na forma de escrita literária.  Os conteúdos dos devaneios assim com os dos sonhos têm suas raízes no material inconsciente por este motivo o ato de devanear pode ser muito prazeroso. Trata-se portanto nos dois casos de uma realização de desejo isto significa que ambos são uma tentativa de correção  de uma realidade insatisfatória. Um devaneio torna-se patológico quando as fantasias são exageradamente poderosas a ponto de ampliar um desvio que conduz à patologia. No universo da adição a droga possibilita um campo fértil para que esses mecanismos sejam ativados na sua dimensão patológica.  



Harry Goldfarb (Jared Leto) quer ser rico. Sua mãe Sara (Ellen Burstyn) quer que ele seja feliz e se case. Marion (Jennifer Connely), sua namorada, quer ter uma griffe.  Enquanto sonha, Harry se encontra com um amigo que tem sempre drogas à mão. Sara sonha com uma vida mais colorida e menos solitária. Um dia o telefone toca e ela entende que está sendo chamada para aparecer no seu programa de TV predileto. Por isto resolve emagrecer tomando pílulas para perder o apetite.

O  termo Réquiem no catolicismo é uma missa composta para um funeral, nesse sentido o título explicita a síntese do filme:  Ode à morte dos sonhos.  No estágio inicial do uso das drogas tanto Marion quanto Harry ao sentirem-se invencíveis acreditam conseguir administrar o consumo da heroína e o tráfico com o intuito de levantar um capital para a realização do seu sonho. 

O ponto forte do filme é sem dúvida alguma a perfomance de Ellen Burstyn vivendo Sara, uma mulher viciada em anfetaminas.  Ela também sente-se mais magra e ótima em seu vestido vermelho. Ela encena magistralmente alguns dos seus efeitos, reação angustiante de pânico, episódios de paranóia e transtorno de psicose aguda.  O seu processo e desfecho deixa claro que não há qualquer possibilidade de felicidade com anfetaminas. Assim todos os sonhos sucumbem diante da dor e da dependência. 

Sara sai de casa e pega o metrô, no trem comenta com os passageiros que vai aparecer num programa de televisão, consegue chegar à estação da televisão,  percebendo que está fora de sí, chamam uma ambulância, no hospital é encaminhada para o setor de psiquiatria.  É prescrita aa eletroconvulsoterapia, modalidade que inclusive é contraindicada para o tratamento de intoxicação por anfetaminas.

O diretor do filme  o norte-americano Darren Aronofsky  referiu-se  ao filme como um fábula urbana,  marcada pela psicodelia e pela edição frenética cria o efeito estético da experiência de alteração de consciência induzida pela droga. O  filme nos alerta para o fato de que quanto maior o vôo maior o risco conforme os meios utilizados.

Por último, sabemos que a mente cria ato de devaneios, que são fenômenos naturais do funcionamento mental e tal como foi apontado anteriormente, não implicam, necessariamente, em uma patologia. Entretanto, o que este filme nos mostra de uma forma cruel é que quanto mais os personagens lutam para concretizar os seus sonhos delirantemente mais eles se afundam oprimidos pelo abuso e pela dependência que eles proprios,  entre aspas, imortalizam.

FICHA TECNICA
Título original: (Requiem for a Dream)
Lançamento: 2000 (EUA)
Direção:Darren Aronofsky
Atores:Ellen Burstyn, Jared Leto, Jennifer Connelly, Marlon Wayans.
Duração: 102 min
Gênero: Drama


Referência Bibliografica:

FREUD, Sigmund.  "Escritores criativos e devaneio" (1908). Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. IX. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

Dica : outro excelente filme do mesmo
diretor:  http://www.imdb.com/title/tt01387%2004/


               

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