Este blog dedica-se a exercitar "escuta" sensível às manifestações artísticas, criações e ilusões humanas.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Por que fazer psicoterapia?

Idéias  propostas por Carl Jung, Robert Louis Stevenson e Joseph Conrad  colocadas no texto de Robert    Bly  "A comprida sacola  que arrastamos atrás de nós"  contribuem  para explicitar metafóricamente  o "Fazer Psicoterapêutico"   enquanto processo  facilitador  -  da percepção da sacola  invisível  - e enquanto instrumento de desvelo e manejo daquilo que  postitiva  ou negativa  a  vida do seu portador num contexto da experiência terapêutica.


A Etiologia da Sacolinha Invisível : quando somos crianças queremos ter o reconhecimento de nossos pais, ocorre que um dia percebemos que eles não gostam de alguma parte nossa  então para conservar o amor deles, colocamos na nossa sacolinha a parte de nós que nossos pais não apreciam. Então começamos a ir à escola e a nossa sacola  já bastante grande é  acrescida de mais coisas que desagradam tanto aos  adultos quanto tudo aquilo que não corresponda aos  nossos ideias  coletivos e  grupo etário.  Cada cultura enche a sacola com conteúdo diferente;  uma  filha e um filho da mesma familia também tem conteúdos diferentes uma vez que ocupam  lugares específicos no mito familiar.


Logo a Psicodinâmica da Sacolinha Invisível é  passar  quase duas décadas decidindo quais as partes poremos na sacola e o resto da vida tentando retirar o resto. Robert Bly nos conta que Robert Louis Stevenson certa noite acordou e contou para a mulher um trecho  do sonho que acabara de ter, ela o convenceu a escrever, ele o fez e o sonho tornou-se " Dr. Jekyll e Mr. Hyde".

Então  a substância  na sacolinha assume "personalidade própria", uma coisa é certa,  ela não pode ser ignorada. Certo dia, ela aparece em outra parte da cidade, algumas vezes ela assume o aspecto de um leão raivoso.  Imagine um rapaz que fechou a sete chaves algum aspecto na sacola aos quinze anos e espera uns sete anos para reabri-la. Tudo aquilo que foi guardado  retorna  como algo que lhe suscita  hostilidade : o lado de fora é um espelho do lado de dentro. É a mulher que queria ser aceita pela sua feminilidade e para isso guardou seu lado masculino, talvez descubra que ele  - seu  homem interno -  lhe seja hostil.  Cada parte rejeitada é uma parte não amada, esta parte pode distanciar-se  ou  revoltar-se. Em toda procura de atendimento insere-se este lado sombra , ocorre que isto não é verbalizado por não ser consciente a sua dinâmica, o paciente pode  "atuar" o que   equivale  a dizer que faz alguma coisa ou tem um comportamento, quase sempre, de caráter impulsivo, diante do qual sente certa estranheza.


Culturas primitivas distintas das
civilizações ocidentais  lidam de forma diferente com esses aspectos, os espanhóis, por exemplo, dissipam as suas energias grressivas com as touradas, os brasileiros com o futebol. 

A Proposta do "fazer psicoterápico" 
é fazer com que essas energias emerjam. Aqui as conexões são imensas, nossa psique é uma máquina natural de projeção, a mulher que vê um herói no rosto do marido, pode certa noite, ver um tirano.


A palava projeção já faz parte  do vocabulário do dia-a-dia,  assume, quase sempre, uma conotação de algo ruim, mas às vezes a projeção é útil  e necessária . Grosso modo,  projeção  é o termo usado para designar num sentido geral a operação pela qual um fato é deslocado e localizado no exterior. Trata-se, portanto,  de uma defesa muito arcaica, particularmente potencializada na paranóia, mas também em outros modos de pensar. É uma forma de conseguirmos estabelecer uma conexão com o mundo, a questão não é tanto o fato de projetarmos  mas sim o tempo que esta projeção se " eterniza"  sobre o outro. Os conteúdos das projeções são inconscientes e se a projeção é feita sem contato pessoal  o seu efeito costuma não ser muito bom  para a pessoa que  recebe e em alguma medida   " o receptor " "precisa dessas projeções".  Por isso é importante que cada pessoa traga de volta suas próprias projeções.


Metaforizando a nossa sacolinha como os dramas das história pessoais,  o objetivo da terapia não é esvaziar, adequar ou corrigir os conteúdos que nela colocamos e sim possibilitar a oportunidade de um diálogo interno " a dois " desse drama na relação  estabelecida entre  terapeuta e paciente.