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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O Imperativo da adicção

Pretende-se com este artigo pensar sobre o fenômeno da adição do ponto de vista da teoria psicanalítica com o objetivo de tecer considerações pertinentes para a clínica contemporânea e para tal tomamos como referência teórica a Teoria Psicanalítica das Neuroses de Fenichel.

Os adictos representam o tipo mais nítido de impulsivos. Cleptomaníacos se enredam em círculos viciosos fatais pelo fato de que o furto aos poucos torna-se insuficiente para aliviá-los. Outros são impelidos a comer compulsivamente, neste sentido, a adição insinua a iminência de uma necessidade urgente, assim o efeito da droga/objeto tem significado imperativo.

Como mencionamos em outra oportunidade, a pessoa passa a depender do efeito, o que está em jogo aqui  é um tipo de gratificação que as pessoas tentar obter para fins  sedativos ou estimulantes quimicamente induzida. Uma  hipótese é que os adictos tentam utilizar estes efeitos para a satisfação das necessidades de segurança e da manutenção da auto-estima que tem a ver com a satisfação do desejo oral arcaico.

Posto desta forma, uma inferência lógica é deduzir que a origem da adicção estaria determinada nem tanto pelo efeito químico da droga e sim pela estrutura psicológica do paciente, o estudo do comportamento impulsivo ajuda ter a compreensão do tipo de prazer que se procura. São pacientes que via de regra se preocupam muito pouco em estabelecer relações objetais uma vez que a sexualdiade genital torna-se desinteressante para eles. Por estarem presos à estágios anteriores - estágio oral - rompe-se a organização genital e inicia-se então uma regressão  extraordinária.

Neste sentido, os objetos passam a serem vistos como fornecedores de provisão, sendo as zonas erôgenas mais acentuadas a boca e a pele, a auto-estima e a própria existência dependem da obtenção de alimento e calor, aqui estes dois elementos devem ser interpretados no seu sentido concreto e simbólico. A fixação neste estágio oral iimplica futuramente em uma  reduzida capacidade de tolerar as frustrações e as tensões , tornan-se tanto mais difíceis de suportar, induzindo o aumento de uso de drogas/objetos. A análise dos adictos, segundo o autor, mostra que a primazia genital tende a colapsar naquelas pessoas em que ela haja sido sempre instável.

Mais importante do que as manifestação das tendências orais ou cutâneas (toma a droga/objeto pela boca ou seringas) é a elevação da auto-estima, aqui as satisfações eróticas e narcísicas tornam-se decisivas. Em casos severos de “adições sexuais ”, por exemplo,  o acento recae na sexualidade neglicenciando a obtenção do prazer sexual mas,  podem pelo contrário, ganhar prazer narcísico da sua suposta potência.

Muito se discute sobre a terapia psicanalítica das pessoas portadoras de impulsos mórbidos, segundo Fenichel o ideal, para casos de dependência química, é que o início do trabalho ocorra nos períodos de abstinência e justamente por este motivo eles têm de ser analisados, 
preferencialmente em instituições ou ambulatórios.  
    
Fenichel, Otto. Teoria Psicanalítica das Neuroses. São Paulo: editora Atheneu, 2005.

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